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O Batalhão Esportivo na Revolução de 1932
Autor: Geraldo de Andrade Ribeiro Jr.
Quando
os simples populares, de todas as camadas sociais pegaram em armas e se levantaram
contra a ditadura foi algo que a absoluta maioria jamais pensara em fazer. A
intensa mobilização popular motivou a todos e batalhões
de diversos segmentos se formaram e o Batalhão Esportivo foi um deles.
As atividades esportivas paralisaram-se em São Paulo, na capital e no
interior, tanto nos clubes, como nos campeonatos em andamento. Clubes e atletas
mobilizaram-se como jamais se vira antes, unindo-se por São Paulo, deixando
suas rivalidades de lado, coordenados pelo departamento de Educação
Física do Estado. Pequenos clubes de bairros e de cidades próximas
a capital formaram ao lado dos tradicionais clubes paulistas para a composição
do 1 º Batalhão Esportivo, logo seguido do 2 º e 3 º Batalhão,
(sendo que este não teve tempo de entrar em ação), numa
mobilização esportiva generalizada.
Batalhão esportivo
Batalhão esportivo
Batalhão esportivo
Os apoios
vieram de diversas fontes e por ocasião da Campanha Ouro para o bem de
São Paulo, o Club Athlético Paulistano simplesmente doou todos
os seus troféus, os quais foram resgatados por alguns associados de grande
poder aquisitivo, que os compraram de volta, salvando-os de serem derretidos.
Alguns atletas simplesmente entregaram suas próprias e preciosas medalhas
de ouro, prata e bronze, para serem derretidas, conforme relação
publicada nos jornais da época, tornando raras as medalhas esportivas
paulistas do período anterior a 1932.
Os filatelistas, tão apegados a medalhas, devem compreender perfeitamente
este gesto de desprendimento e sentir a sua importância. O então
esportista Heitor Sanchez, da A.A.São Paulo, nada mais, nada menos que
o nosso famoso filatelista, príncipe da Filatelia Brasileira, foi um
dos que doaram suas próprias medalhas e outras que coletou. O Esporte
Clube Sírio doou 500 uniformes, O Esporte Clube Germânia 100 cachecóis
e lojas comerciais doaram cobertores e outros equipamentos.
Carimbo
A participação de grandes nomes do esporte da época, como Aduicio F.dps Santos, Pres.da Fed. Paulista de Basquete, Henrique Aguiat Vallim, Pres. Da Fed.Paulista de Esgrima, Athiê Jorge Cury, goleiro e depois presidente do Santos, o futebolista Arthur Friedenreich (conhecido como El Tigre), jogador do São Paulo F.C. e integrante da seleção brasileira de futebol, motivava todos e, principalmente, a mocidade paulista. Pelo rádio, maior veiculo popular de massa, mais que os jornais, ele lançava o apelo : "... todos juntos, defendamos a causa sagrada do Brasil. Tudo por São Paulo, num Brasil unido." Segundo o Manifesto das Entidades e Clubes Desportivos, de 13/08/1932 : " era preciso que o esporte demonstre, nesta hora máxima, que ele não só robustece o corpo, mas também dá a têmpera das almas." No início de agosto eram 1400 e, no início de setembro, já totalizavam 2.000 alistados.
Arthur Friedenreich
Pode parecer,
a princípio, que eram simples atletas que se organizaram precariamente
e que ficariam na retaguarda ou numa situação confortável,
mas, a realidade foi outra, narrada pela imprensa e em livros sobre o conflito.
Os integrantes haviam recebido um mínimo de treinamento físico
e militar, dias antes de partir para a frente de batalha, no campo do São
Paulo FC, então localizado na Ponte Grande. Na luta, obtiveram algumas
vitórias, tendo atuado efetivamente na área de Eleutério,
município de Itapira próximo a fronteira mineira, onde receberam
seu batismo de fogo, a 04/08/32, poucas horas após haver chegado à
zona de combates, tendo se destacado neste primeiro confronto. A 22/08/1932,
numa tentativa de assalto das forças federais e, após as trocas
de tiros, iniciaram-se xingamentos dirigidos aos paulistas, entrincheirados
bem próximos a eles e os mais de 500 integrantes dos Batalhões
Esportivo e do 9 de Julho, passaram a entoar o Hino Nacional, fazendo cessar
os xingamentos. Para maiores detalhes dos aspectos militares, consultem o excelente
blog Tudo por São Paulo: http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br/search?q=eleut%C3%A9rio
A Cruzada dos Escoteiros ofereceu-se para entregar as cartas dos esportistas
a seus familiares (Folha da Manhã, 05/08/1932, pag.4), serviço
este estendido a entrega postal em geral, face a suspensão parcial dos
serviços e marcando a presença escoteira na nossa Revolução
de 1932. Quando da partidas dos batalhões os escoteiros dirigiram aos
mesmos uma sugestiva proclamação comprometendo-se a servirem de
mensageiros, entregando às suas famílias, residentes na capital,
toda a correspondência que lhes fossem enviadas do front. A Folha da Manhã
de 10/11/1932, destaca as mais de 600 cartas entregues em toda a cidade, a pé,
apenas naquela data e " Ao receberem as cartas, as mães, esposas
e irmãs dos valentes soldados paulistas choravam de comoção,
abraçadas aos pequenos escoteiros, demonstrando-lhes o seu jubilo e reconhecimento
por levarem as notícias satisfatórias dos que se batem pela liberdade
de São Paulo e pela grandeza do Brasil."
A sra. Maria de Gertrudes Faria doou ao 1 º Batalhão Esportivo uma
bandeira nacional, de seda, bordada com fios de ouro e prata e fez o mesmo com
o 2 º Batalhão, com uma bandeira paulista, a qual foi exposta na
Casa Mappin, além dos primeiros 100 capacetes de aço iniciando
uma lista destinada a obter capacetes para todos os integrantes dos 2 batalhões,
seguida de uma singela doação de alunos da escola mista de Taipas,
com o mesmo objetivo. Como pode se verificar, o 1 º Batalhão Esportivo
partira para o front sem capacetes, como se pode ver nas fotos anexas ! A rica
senhora, então moradora da Av. Paulista também colocou seu automóvel,
um " Cadillac" à disposição do departamento Esportivo,
conclamado as pessoas de suas relações a colaborarem, instalando
em sua casa uma sede para receber estas contribuições.
A Cia.Melhoramentos ofereceu 1600 envelopes, formato oficio, para os 2 batalhões,
seguida da firma Rotschild e Cia., a qual ofereceu 5.000 envelopes e 5.000 folhas
em branco, sendo o correio organizado pelo próprio Departamento de Educação
Física, em sua sede, na Rua 7 de abril, 21, até o dia 8 daquele
mês, quando, por conveniência da unificação (entenda-se,
razões de segurança) dos diversos correios militares, passa a
ser feito pelo Correio Militar do MMDC;
A Folha da Manhã de 05/08/1932. pag. 5, aponta que " parte domingo
de manhã (07/08) a primeira remessa do correio militar da mobilização
esportiva para o 1 º Batalhão Esportivo, dando detalhes de como
os familiares deviam embalar as encomendas. Efetivamente, isto veio a ocorrer,
sendo as malas transportadas em carros particulares dos Srs. Benedicto Rizzo
e Luiz Salerno, que gentilmente ofereceram seus préstimos.
A 9 de agosto, a partir das 15 hs., a entrega da primeira remessa de correspondências
provenientes do Batalhão Esportivo e a 11 de agosto seguia para eles
a segunda remessa de cartas e pequenos volumes, os quais não deviam exceder
o volume de uma caixa de sapato, ainda em veículos particulares, mas
de outros motoristas, sendo que um deles, Galiano Caliera ficou a serviço
do comandante, na zona de combate. Esta segunda remessa levou de carona um lote
de 10.000 cigarros oferta do posto de coleta da Radio Record, bem como contou
com a participação do 1 º capitão Américo R.
Netto, secretário do Departamento, um elemento de grande atividade na
época, redator esportivo de O Estado de São Paulo, autor de excelente
livro sobre Jogos Olímpicos e criador do marco zero, instalado na Praça
da Sé em São Paulo.
No início de outubro, com o iminente fim do conflito, os 2 batalhões
que estavam na frente de luta já haviam sido desmobilizados e seus integrantes
retornado à Capital ou às suas cidades de origem. No período
pós-revolução, ainda ao final de outubro, com os ânimos
ainda exaltados, havendo manifestações quase diárias na
capital, os líderes dos 3 Batalhões Esportivos subscreveram um
manifesto, junto com outros líderes pedindo o restabelecimento da ordem
e o fim das escaramuças. O espírito do Batalhão esportivo
permaneceu, mesmo após sua desmobilização, pois uma equipe
da A.A.São Paulo ainda mantinha o nome em competições internas
e a 19 junho de 1934 os integrantes do 1º Batalhão foram convocados
para uma reunião, visando as comemorações do 9 de julho,
que seriam realizadas no mês seguinte, tendo fundado a Associação
Cívica 1º Batalhão Esportivo (ACPBE), sem fins políticos,
a qual realizou homenagens aos 3 integrantes do 1 º Batalhão mortos
em combate.
Perdera-se apenas uma batalha, na permanente guerra de manutenção
da democracia e ficou o exemplo de São Paulo, mais particularmente de
seus esportistas, os quais uniram-se em torno de um ideal comum. Restam as raras
cartas (2 exemplares conhecidos) deste grupo de esportistas, testemunhas de
uma epopéia histórica, demonstrando, uma vez mais, a importância
da Filatelia, como ciência auxiliar da História, pois, ao preservar
estas cartas, manteve vivo um pedaço da História Paulista, gerando
estas linhas que foram resgatar histórias já perdidas no tempo.
Há dezenas de selos e carimbos destes clubes que podem ilustrar, ainda
mais, esta história.
Carta
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Jornal - "Correio de
São Paulo"
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