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ASSOCIAÇÃO
FILATELICA E NUMISMÁTICA
DE FRANCA : 50 ANOS DE ATIVIDADES
Autor: Geraldo de Andrade Ribeiro Jr.
Publicado
originalmente no Jornal Diário de Franca
A 1º de agosto de 1999 completou
50 anos de atividades a
Associação Filatélica e Numismática de Franca. Num
país onde
praticar uma atividade cultural é uma tarefa ingrata e, por vezes, até
mesmo impossível, o fato duma entidade cultural atingir esta marca
é um fato extremamente marcante e em nossa cidade poucas entidades possuem
um trabalho cultural e um curriculum como o da nossa associação.
Ao longo destes anos a AFF procurou levar ao público francano e em especial à sua juventude, a essência da Filatelia : cultura, educação e entretenimento, por meio de seus cursos e exposições, sempre visitadas por caravanas de escolares de todos os níveis e apreciada pelo público em geral.
Primórdios
A Filatelia em Franca data do início do século, com destaque para várias figuras. como Antonio de Andrade Lobo Bastos, a quem se atribui a melhor coleção já montada na cidade, com muitos exemplares de Olhos-de-Boi, Joaquim de Amorim Carrão, engenheiro civil e autor da planta da nossa catedral e João Beighel, marceneiro.
De todos, o mais famoso foi o dentista
austríaco Luiz Marusig, conhecido também por sua indumentária
toda branca com sapato e bengala da mesma cor, que adquiria grande quantidade
de selos, geralmente juntada por garotos e até mesmo adultos. Consta
que vendeu este acervo, numa viagem à Europa, trazendo de lá um
completo gabinete dentário e o primeiro avião a ser visto em Franca.
Desde a década de 40 destacou-se o português Joaquim Pousa de Araújo,
que colecionava desde 1910 e em 1916 colocava o seu primeiro anúncio
no jornal filatélico O São Paulo Philatélico, da capital,
foi integrante de diversos clubes do país e do exterior, vindo a falecer
a 04/03/1976, após participar de todas as mostras e exposições
de nossa cidade e também Túlio Schirato, possuidor de dezenas
de coleções diferentes.
Segundo Irineu Mário Nicácio, (também filatelista e futuro cronista e dirigente nos anos 80), em matéria publicada no Almanaque Histórico da Franca (1943), nesta época também colecionavam : Francisco Andrade Filho, José A. D'Elia, Ruben G.de Resende, Arthur Guimarães, núcleo filatélico do Colégio Champagnat, Chrysantho Zuliani, Dr.Jonas Ribeiro, Helio Vieira, Dr.João M.de Almeida, Nelson Salles, José Ciryno Goulart, Dr.Antonio Petraglia, Hygino Caleiro Netto, Isaac Chamis, Vicente Latorraca, Gino Ballerini, Rev.Julio de Andrade Ferreira, Dr.J.Mathias Vieira, Aloisio Gomes Alves, Antonio Carlos de Almeida, Dr.Carlos Signorelli, Alvaro Jacyntho Guimarães e Ver.Nathanael I. Nascimento.
O início
O final dos anos 40, mais precisamente em 01 / 08 / 49, exatamente no Dia do Selo, marcou a fundação como Núcleo Filatélico de Franca, o qual permaneceu com este nome até 1954, quando, já fortalecido e num período de desenvolvimento filatélico em todo o país, estabelecia seu Estatuto, tonando-se Associação Filatélica de Franca. Esta, logo a seguir, conseguia a emissão de um selo postal para o 100 º de Franca, feito alcançado por poucas cidades do país. Deve-se registrar a atuação de Francisco Claret Vaz que, no Rio de Janeiro, então capital, trabalhou intensamente para a emissão do selo da Franca.
Esta realização, a
mais marcante da AFF foi um dos pontos altos das comemorações
do centenário e colocou a Filatelia em destaque na área cultural
da cidade, passando ela a ter um reconhecimento por parte das autoridades e,
por muitos anos, a Prefeitura Municipal destinou dotação de verba
específica para as nossas exposições, fato este que, infelizmente,
cessou a alguns anos.
Desde esta época, até o seu falecimento, nos anos 80, a figura
do Dr. José Infante Vieira foi uma referência em nossa Filatelia,
pela sua posição de dirigente, aglutinador, incentivador e pelo
laborioso trabalho junto às nossas autoridades, empresários, público
em geral, dando à Filatelia francana um respeito e uma dignidade impar,
fato este reconhecido nacionalmente. Foi cronista do Comércio da Franca,
com mais de 500 colunas filatélicas publicadas, com um texto primoroso,
lido e considerado até mesmo nos círculos filatélicos paulistanos
e cariocas.
Sob sua liderança, Franca destacou-se nacionalmente no cenário filatélico, com numerosos carimbos postais comemorativos, solicitações de emissões de selos e a realização de exposições filatélicas de porte para a época, tornando-se um dos principais centros filatélicos do nosso estado superando cidades de maior porte. Possuidor de diversas coleções era dotado de grande interesse pelos vários aspectos da Filatelia e sua excelente prosa era motivo de satisfação a todos, abrilhantando as reuniões com seus "causos "e especialmente a mim, a quem ele, no final de sua vida dedicava horas de saborosa conversação e legou diversos documentos para a história da nossa associação.
Os anos dourados
Os anos 60 e 70 foram os mais profícuos em realizações, com um grupo formado por José Infante Vieira, Joaquim Pousa Araujo, Fulgêncio Alves Taveira, Guido Betarello, Túlio Schirato e.Geraldo de Andrade Ribeiro, ambos pioneiros da Filatelia Temática em Franca, Angelo Paludetto Netto (neto do Joaquim Pousa e também cronista filatélico no Diário da Franca), Alexandre Noronha, Francisco Carlos de Noronha, Décio Pimentel, Angelo Tornatore, Benedito Simões Jr, Antonio de A. T. Rosa, Antonio Domingos Barilari, José Antonio Chistovam de Freitas, Benedito Carlos Menezes e pelo autor destas linhas.
Além de muitas exposições
(quase anualmente), foram sugeridos diverso selos, destacando-se o selo para
o Papa João XXIII, alvo de uma grande polêmica na época,
por apresentar erro de concepção e ter seu lançamento e
o respectivo carimbo a ser aplivado em Franca cancelados a última hora
e finalmente liberados.
As reuniões da AFF realizavam-se sempre em locais cedidos e, ao longo
do tempo, utilizou-se salas da ACIF, da Loja Maçônica Amor à
Virtude, de escritórios particulares, residências de diretores
e até mesmo os bancos da Praça Nossa Senhora da Conceição,
por muitas e muitas vezes abrigaram o grupo de adeptos da arte e ciência
que é a Filatelia.
As exposições
Ao se falar das nossas exposições, realizadas geralmente na antiga Galeria Borges, na praça Nossa Senhora da Conceição, na Associação Rural de Franca e em outros locais, deve-se destacar a V ª Mostra Filatélica de Franca de 07 a 11 de setembro de 1962 , realizada na Sociedade Siria Beneficiente, na qual foram utilizados 50 painéis expositores, construidos especialmente para o evento, todos eles obtidos com a colaboração do comércio, da indústria e de particulares, cada quadro levando o nome de seu doador, numa época em que tal proposição em marketing filatélico era uma raridade e este fato passou aos anais da história da filatelia brasileira.
Também neste evento, fiz a
minha estréia em exposições, montando, aos 10 anos de idade,
a minha primeira coleção. Estes painéis, utilizados até
1972, ainda estavam plenamente utilizáveis, quando após uma exposição
no Colégio de Lourdes, vieram a desaparecer misteriosamente e jamais
foram vistos novamente.
As exposições, palco maior da Filatelia, sempre deram muito trabalho,
peripécias de última hora, dificuldades mil, porém sempre
acabavam por se realizar, graças a colaboração de todos
que, indistintamente, ficavam até de madrugada carregando os quadros,
pintando-os, colocando placas com nomes, número, montando as coleções,
etc., enfim superando todas as dificuldades em nome do espírito amadorístico
e da união que sempre caracterizou os filatelistas francanos.
Na oportunidade, não poderíamos de deixar de agradecer a todos
que sempre colaboraram com nossas exposições, em particular os
Correios, a atual Empresa de Correios e Telégrafos, desde os tempos de
Departamento dos Correios e Telégrafos, por intermédio de sua
agência postal e da área de Filatelia.
O Curso de Extensão Universitária
Em 1972, realizou-se na Faculdade
de Filosofia, Ciência e Letras de Franca o 1 º Curso de Filatelia
em Extensão Universitária em nosso país, um marco internacional,
poucas vezes realizado em todo o mundo.
Durante uma semana, especialistas de São Paulo ministram este curso a
universitários francanos e um velho filme Super-8, passado para vídeo
documenta esta jornada e os filatelistas da época, muitos já desaparecidos.
Panorama atual
Apesar das dificuldades, o segmento
cultural Filatelia acha-se reconhecido nacionalmente (Lei Rouanet) e a nível
estadual (LINC), mantendo-se a duras penas e em Franca a situação
não é diferente.
Após uma trajetória gloriosa, com marcos ímpares na Filatelia
nacional, a nossa entidade passa por apuros e dificuldades inerentes a toda
entidade cultural, em particular as filatélicas, concorrendo atualmente
com o interesse da juventude para com video-games, computadores, Internet, etc.,
bem como com as atribulações da vida moderna. Poucos foram os
clubes filatélicos brasileiros que conseguiram completar esta marca e
desenvolver um trabalho deste nível por tanto tempo.
Os novos dirigentes da Associação Filatélica e Numismática
de Franca, agora com esta nova denominação, cientes desta trajetória
e conscientes de seu papel persistem e continuam a lutar, mantendo acesa a chama
dos ideais de seus fundadores e mantenedores ao longo destes 50 anos.
A cultura e a educação francana têm uma dívida de
gratidão para com a AFF pelo seu longo, profícuo e desinteressado
trabalho em prol de nossa cidade.
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