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O acidente do hidroavião Guaracy

Autor: Geraldo de Andrade Ribeiro Jr.

O Syndicato Condor operava linhas aéreas no Brasil, com aviões Junkers F13 e Ju 53/3 m, estes desde 1933, sendo o primeiro o Anhangá (PP-CAT), seguido de diversos outros todos batizados com nomes tupis. O Ju 53/3 m, era um avião robusto e versátil, tanto que era conhecido como "Tante Ju" (Tia Ju).

Apesar que havia uma manutenção com um padrão germânico de qualidade, ocorreram diversos acidentes com os Junkers da Condor, no final dos anos 30 e um dos mais conhecidos foi o acidente com o Guaracy (PP-CBC), em 22 de maio de 1938, ao decolar de Santos (SP).

A cidade de Santos já estava acostumada ao tráfego de aviões e naquele ano havia linhas da Air France, Syndicato Condor, Panair, Aerolloyd Iguassu e do Correio Aéreo Naval e os jornais santistas traziam rotineiramente as chegadas e partidas de aviões e o horário de fechamento das malas postais. E também era usual os paulistanos comparem passagem em São Paulo, nas agências aéreas e descerem para embarcar em Santos. O próprio presidente Getúlio Vargas era usuário das linhas aéreas nacionais, inclusive usou a linha do oeste do Syndicato Condor para visitar diversas cidades, indo até Porto Velho (RO). Em 06 de janeiro de 1932, ao dirigir-se para o sul, para inauguração dos pilares da ponte Brasil-Argentina, havia se utilizado desta linha, exatamente com o mesmo avião Guaracy.

A linha do litoral, partindo de Natal até Porto Alegre era a mais concorrida, quer em passageiros, quer em carga postal. Os hidroaviões da Condor pousavam, em Santos, na Ponta da Praia, local próximo ao atual embarque das balsas para o Guarujá, pousando e decolando no canal do porto, aproveitando as águas calmas no local.

O Guaracy havia feito um vôo regular, saindo do Rio de Janeiro, com destino final Buenos Aires e amerissando na manhã do dia 22 (domingo), às 7:10 h., com pequeno atraso em relação ao horário previsto (6:30 h.). Foi reabastecido, recebeu passageiros e mais uma mala postal, saindo para decolando após 20 minutos, mas decolar do estuário de Santos, percorreu cerca de 1000 m., elevou-se, mas uma falha no motor central provocou a queda da aeronave a 300 metros da Ilha das Palmas, embora alguns passageiros tenham observado excesso de carga e os flutuadores muito submersos na água.

Dos 17 ocupantes (13 passageiros e 4 tripulantes), faleceram apenas 2, o Dr. Mauricio Cardoso, Secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul e ex-Ministro da Justiça e o comerciante gaúcho Gustavo Adolpho Albrecht, sendo que os sobreviventes, com coletes salva-vidas fornecidos pela tripulação, foram salvos por pescadores japoneses, por barcos do Clube de Pesca de Santos, localizado na Ilha das Palmas, próximo ao local e por barcos diversos que acorreram ao local.

O acidente causou comoção na cidade e a Rádio Atlântica (PRG-5), foi a primeira emissora a transmitir o acidente, amplamente noticiado pela imprensa local e nacional durante dias e os destroços foram localizados no dia seguinte por um pescador japonês e confirmado por escafandrista da Cia.Docas de Santos.

O interesse postal neste vôo ocorre pelo fato do Guaracy transportar malas postais, as quais foram encontradas e retiradas do avião acidentado, como se pode ver pela notícia do jornal santista A Tribuna, de 24 de maio : " Os fluctuadores do Guaracy, depois de socorridos os náufragos, foram rebocados por lanchas da Condor, Polícia Marítima e "Edgar Perdigão" para a Ponta da Praia e, à noite, recolhidos para os terrenos do Clube de Regatas Saldanha da Gama. Toda a correspondência postal que o avião conduzia foi salva. Achava-se ella collocada nos fluctuadores, dentro de grandes sacos de lona. Até um envelope contendo a importância de 2:330$000 foi arrecadado. As 12 horas amerissava na Ponta da Praia o hydro-avião Marimbá, da Condor, para substituir o Guaracy no vôo ao sul do país e a Buenos Aires. Esse aparelho conduziu toda a correspondência postal." O texto do jornal não está correto, pois não há registros de transporte de malas postais nos flutuadores e somente poderia ser confirmado pelo encontro de peças com carimbo de chegada com data imediatamente após 22 de maio, o que ainda não ocorreu.

Os destroços foram retirados do mar em 04 de junho, estando avariada a parte frontal, ficando praticamente intacta a fuselagem e em 07 de junho o mesmo jornal publicava : " Hontem, às 10 horas, foram iniciados os serviços de retirada da bagagem dos passageiros, Vargas e malas postaes que o aparelho sinistrado da Condor conduzia em seus porões... Trabalhadores das docas arrecadaram bagagens, cargas e malas postaes..., achando-se tudo isto externamente danificado devido a água do mar. Bagagens, cargas, saccos de correspondência e... foram devidamente arrolados e seu conteúdo vistoriado."

As peças transportadas neste vôo podem ser classificadas em 2 (dois) tipos:

Tipo 1 - peças acidentadas

a) - peças já a bordo quando da chegada a Santos (vindas da Europa e do norte do país)
b) - peças recebidas na parada (basicamente originadas de Santos e São Paulo, porém existem peças originadas de outras cidades);

Tipo 2 - peças desembarcadas na chegada a Santos, dia 22 de maio, a salvo do acidente

As peças do tipo 1 apresentam-se bastante avariadas pela ação da água do mar, tendo sido secas, reensacadas e enviadas ao destino (Porto Alegre), lá tendo recebido, nos Correios, a etiqueta de Serviço Postal / Correspondência dilacerada, destacando-se que as cartas destinadas ao Rio Grande do Sul (carimbos de chegada em 16, 20 e outra data a determinar de junho) são a grande maioria das cartas conhecidas. Face aos estado de avaria dos envelopes, estes eram mais descartados pelos destinatários do que os envelopes comuns. Cartas para a Argentina levaram, em Buenos Aires, o carimbo "Recibida em Mal Estado".

As peças do tipo 2 podem ser identificadas, basicamente, pela data do carimbo de chegada (22 de maio em Santos e em São Paulo), pelo carimbo de origem (data anterior a 22 de maio, 21 de maio para as cartas do Distrito Federal) e pelo porte apropriado em função da tabela de preços da Condor.

Ao todo, os Correios de Porto Alegre entregaram, na segunda quinzena de julho, 2.749 cartas, em 3 remessas de 433, 1.630 e 686 cartas, respectivamente, sendo parte delas foram reencaminhadas para pelotas e Rio Grande, contendo, todas elas, a etiqueta SERVIÇO POSTAL - Correspondência dilacerada e o carimbo Accidente de Avião, na cor violeta.

Como se pode constatar, um acidente aéreo, com carga postal, além de poder ser objeto de pesquisas, pode ajudar os eventuais pesquisadores do acidente, pois os envelopes contam histórias.

Consultoria : João Roberto Baylongue - JRB pesquisas
Imagens : acervo do autor



Guaracy em vôo

Guaracy em vôo - imagem de propaganda da Condor

Etiqueta - Condor

Syndicato Condor - Timetable

Quadro de horários do Syndicato Condor

Syndicato Condor Label - frente

Syndicato Condor Label - verso

Syndicato Condor - Adesivo

Hidroavião Guaracy em manutenção no Rio de Janeiro

Ilha das Palmas - local do acidente

Flutuadores avariados

Guaracy - Retirada das malas postais

Carta postada - acidentada - frente

Carta postada - acidentada - verso

Carta postada - acidentada - frente e verso

Carta postada - acidentada - frente

Carta postada - acidentada - verso

Carta postada em Santos-acidentada - frente

Carta postada em Santos - acidentada - verso



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