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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FILATELIA TEMÁTICA

 

 

ARTIGOS PUBLICADOS

FILATELIA TEMÁTICA: EDUCAÇÃO E CULTURA

Autor: Heitor Fenício (+)

Publicado originalmente na Revista Temática, Filatelia e Cultura - nº 060 - 1991

Quando o primeiro cidadão anônimo do mundo resolveu colecionar, selos, uma força psicológica, imponderável mesmo, levou-o a tal desiderato. Essa força se traduziu pela procura de uma distração, de um derivativo espiritual, de uma fuga para suas atribulações, de um "hobby", finalmente.

O modo de colecionar pouco importava. Cada qual juntava selos de acordo com sua vontade e capricho. A dama enfeitava seu toucador, o livreiro forrava o teto de sua tenda de trabalho o teto de sua tenda de trabalho, o menino londrino adornava seu caderno escolar, etc., Com o passar dos tempos e com a adoção do método de selar correspondência por vários países, o número de etiquetas postais foi, progressivamente, aumentando. Iniciou-se, então, a coleção por países; depois, prosseguindo, o estudo da peça filatélica em si, pelo seu aspecto morfológico, estático, etc. Mas...a curiosidade, a inquietude do espírito humano, versátil à monotonia, continuou a pesquisa de outros pormenores em torno do selo postal, verificando que, também em torno do selo postal, verificando que, também, a imagem gráfica lhe daria o mesmo prazer que deu ao primeiro colecionador.

Preencheria, também, as exigências psicológicas que levaram todos os precursores e pioneiros do colecionismo a juntar a etiqueta postal, esmiuçando-lhe todo o organismo, dissecando-os para estudá-lo sob todos os ângulos: O "HOBBY".

O Tema também era um "Hobby" e lhe dava idêntico prazer e encantamento, daí o estudo da imagem gráfica que justifica a emissão de selos.

Como acabamos de ver claramente, essa é a razão primária, imparcial, sem contestação do verdadeiro colecionador: o prazer, a distração sem interesse monetário, sem trabalho exaustivo, apenas, "Hobby" e como bem pontifica o filósofo espanhol Mira e Lopes:

"...hobby representa uma conpensación, uma espécie de bálsamo que permite al sujeto recuperarse de lãs perdidas e insatisfacciones que la dureza de la vida le ocasiona..."

Por essa razão, concluímos, já neste preâmbulo, que todos os métodos de colecionar selos devem ser acatados, respeitados, desde que se enquadrem ao princípio básico desta tese.

Histórica, filosófica e cientificamente é esta a razão da existência dos vários modos de colecionação da tarja postal. Tudo o que foge a esse princípio inicial é picardia, demagogia, estrabismo mental e, pode-se dizer, falso ou pseudo-filatelismo...

A beleza, pois, do colecionismo - "HOBBY" - está exatamente na amplitude de suas leis naturais, na liberdade e no ecletismo de seus princípios. O valor econômico, moral, sentimental, material das peças do colecionador é muito relativo. Está preso à sua estima e ao "HOBBY", como tese real do colecionismo, permanece intangível. Alguns, apenas, é que não lhe reconhecem, inexplicavelmente, essa verdade meridiana. Talvez, o materialista, aquele que vê o selo através de uma coluna de metal sonante... E assim nos acompanham os Correios Belgas:

"O selo é o objeto principal da coleção e, após vários anos, observa-se que o sucesso da filatelia não tem fronteiras..."

Amando os selos, por amor ao 'HOBBY", vamos parafrasear um pensamento antigo, como a própria humanidade. Transportá-lo para filatelia, tão lírico, tão suave e tão natural seu conceito que transpira tranqüilidade de regato em selva silenciosa, onde, apenas, o murmúrio de seda de seu doce rolar vem quebrar a monotonia da existência:

"...assim como as recordações são o refúgio do nosso espírito, quando a realidade nos desgosta, a Filatelia é uma lembrança coletiva que enche as horas de tédio onde o cansaço pode nos dar prazer e recreio sem exigir esforço..."

Podemos destacar, em princípio, duas grandes razões fundamentais da existência das etiquetas postais na vida dos seres do mundo terráqueo:

1º) O selo postal existe para o fim de portear, franquiar uma correspondência de indivíduo para indivíduo, num serviço prestado pela entidade governamental.

2º) O segundo motivo é mais nobre. Traz consigo a tradição e o bom hábito de colecionar segundo razões várias, visando aspectos múltiplos do selo.

O que nos interessa, na ordem de nossos pensamentos, é exatamente este segundo item.
Convém, entretanto, ressalvar que o quadrilátero postal não traz gravado na sua face somente as cifras de seu valor monetário, país de origem, a cor a picotagem, a espessura do papel, as nuances, etc. Há algo mais em evidência e mais empolgante, que vem motivando cada vez mais sua emissão. Esse algo mais não é outra coisa senão a imagem gráfica que o gerou, isto é, sua mensagem. Não há selo com goma dos dois lados!...

Conjecturando, então uma das finalidades precípuas de sua existência não é somente a franquia postal, mas, também, uma estreita colaboração com a história da própria humanidade, em todos os terrenos da atividade humana, quer social, artística, científica, etc.

Com a linguagem gráfica de seus desenhos o selo de correio tanto pode descrever um acontecimento social, quando trata do indivíduo, como fixar em compêndios pictóricos uma classificação científica no terreno da Geologia, da Botânica, da Medicina, da Astronáutica, da Aviação, da Navegação, etc., vindas de laboratórios e campos de pesquisas experimentais.

Releva, aqui, lembrar que uma ciência não vive só. Sua existência depende de outras. Sua Íntima interrelação é um imperativo de sobrevivência. A Química, a arte pictórica, a indústria de papel, métodos de Imprensa, a história da humanidade, e todas suas atividades, enfim, vivem de mãos dadas na produção do selo postal. Assim é que, num futuro próximo, se quisermos tirar ilações, remontar ao passado da aviação, do esporte, da música, da pintura, distinguir ou classificar as Maváceas, ressuscitar a origem de religiões, dos costumes, da sociologia humana, enfim, é muito fácil... Contemplemos um álbum de selos. Quando quisermos estudar a amplitude, a extensão científica filatélica, quando quisermos analisar qualquer departamento de pesquisa humana, recorremos ao selo postal dentro de sua enciclopédia a coleção organizada modernamente e lá encontraremos fartos motivos.

Basta manusear algumas folhas filatélicas e de lá extrairmos, numa exumação atual do quadrilátero postal: sua MENSAGEM.
Se não fora assim, como enunciamos, por que o selo ainda não desapareceu com o advento, extraordinariamente econômico, das máquinas de franquia?...

Tal razão bem compreenderam, admitem com veemência e realizam os múltiplos Ministérios Postais de todas as nações do mundo, uníssonas, cuidam com tanto carinho, da estampa postal, com aquele objetivo educacional, pedagógico, político, religioso, que, todos nós, filatelistas do mundo, conhecemos sobejamente.
Foram tangidas por estas razões evidentes que as definições modernas de filatelia se baseiam na história do homem sobre a terra e suas realizações.

Definição histórica, científica, dá-lhe, com muita justeza, o Congresso Internacional de Filatelia realizado, há algum tempo, na cidade de Barcelona, Espanha, numa de suas monumentais resoluções, como conclusão daquele magno conclave que reuniu a elite filatélica mundial, quando assim pontifica:

"FILATELIA É UMA CIÊNCIA AUXILIAR DA HISTÓRIA"

Foi equacionado, também, desta maneira, que o escritor brasileiro, Taunay, com interesse pedagógico, em seu livro didático, assim define a ciência dos selos:

"SELO É UM INSTRUMENTO DE VERACIDADE HISTÓRICA"

 

 

 

 

 

 

 

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